O presidente eleito Vinícius já tem (como sempre tiveram todos os presidentes do Confea) uma legião de puxa-sacos e pedintes em volta dele. Não precisa de mais um. Precisa, sim de pessoas livres o bastante para serem honestas com ele e dizer o que precisa ser dito. Sem a intenção de ofender, sem a intenção de destruir. Apenas querendo o bem do Confea e da Engenharia no Brasil.
Prezado Engenheiro Vinícius
Parabéns. O senhor venceu as eleições para presidente do CONFEA. A primeira 100%, num processo que orgulhou a todos nós profissionais de Engenharia, de Agronomia e de geociências no Brasil
E o senhor venceu bem. com uma margem muito expressiva, demonstrando a clara preferência manifestada pelos profissionais que votaram.
E, além disso, devo dizer com certa satisfação, o senhor venceu com uma campanha bonita, tecnológica, inovadora, corajosa e envolvente. Com certeza, deu muitas esperanças a um número muito grande de profissionais brasileiros. Parabéns.
Os próximos três anos serão de muito trabalho. O senhor sucede um bom presidente no Confea (uma sorte que o seu antecessor, infelizmente, não teve). Joel Krüger e sua equipe elevaram a régua, embora eu não tenha dúvida de que nos próximos três anos esses limites serão superados.
Há um trabalho muito pesado para ser feito. Precisamos aumentar ainda mais a representatividade dos cargos do Sistema Confea/Crea. Avançamos muito nos últimos 6 anos, mas ainda temos mais de 80% dos profissionais que pagam anuidades e ARTs e que não consideram importante abrir o computador (ou celular, ou tablet) e gastar um minuto para escolher os dirigentes dos Creas, da Mútua e do Confea. Isso não é bom
Afinal de contas, os milhões de reais que o Confea tem em caixa e os mais de 100 milhões que o Confea administra anualmente saem diretamente do bolso desses quase um milhão de profissionais espalhados pelo Brasil. É muito dinheiro! E tem alguma coisa errada quando mais de 500 mil profissionais viram as costas para seu próprio dinheiro, o senhor não concorda?
Na minha modesta opinião, esta é uma das tarefas essenciais a ser enfrentada nos próximos três anos: aumentar a ligação do Confea com os profissionais a ele vinculados.
Nesses últimos quase 30 anos, presidente Vinícius, tive o privilégio de apresentar meus cursos e palestras em mais de 185 cidades de TODOS os estados brasileiros. Foram cerca de 930 eventos, com a participação de mais de 21 mil profissionais.
Tem sido uma inestimável oportunidade de conhecer a realidade de muitos profissionais de todas as regiões. Infelizmente, o que tenho visto e sentido (e até mencionei isto, em uma série de artigos que eu escrevi em 2003) é que os profissionais, de uma maneira geral, odeiam o Crea e ignoram completamente o Confea.
Uma imensa legião de engenheiros, de agrônomos, geólogos, geógrafos, tecnólogos e técnicos de nível médio não faz a menor ideia do que é e para o que serve o Confea.
Nesses últimos seis anos nosso sistema profissional deixou de ser irrelevante no país e passou a ter voz e algum prestígio. Tenho certeza de que, sob o seu comando essa questão será ampliada e alcançaremos resultados ainda melhores (quem sabe teremos, finalmente, um presidente na abertura da SOEA, coisa que eu nunca vi em toda a minha carreira que já tem 36 anos)
A grande imprensa nacional ainda ignora completamente a existência da instituição. Uma demonstração disso tem sido a cobertura da mídia para a SOEA, realizada todos os anos, há quase 80 anos. Como é que o maior evento de uma categoria potencialmente expressiva como a nossa passa completamente em branco nos grandes veículos de comunicação do país? (jornais, TVs, rádios e revistas e mesmo os portais, blogs e Canais de Youtube da área tecnológica)
Na minha opinião, o Confea merece e precisa ser mais importante no cenário nacional. O presidente do Confea precisa, em nome dos profissionais, ter voz ativa e altiva nas discussões nacionais. O mínimo que eu espero do presidente do Confea é que se estabeleça como interlocutor do mais alto nível na esfera nacional. Não pode mendigar por uma audiência com um ministro ou não ser recebido por um presidente da república. Isso precisa mudar!
Tenho, senhor presidente, muito orgulho do trabalho que, no passado, realizei com o apoio do Confea (nos últimos 15 anos não tive nenhum trabalho contratado pelo Confea). Sou grato pelas oportunidades. Gosto do Confea, tenho centenas de amigos no Confea e nos Creas. Pelo menos metade dos presidentes eleitos dos Creas são meus amigos pessoais.
Não sou um inimigo do sistema (e os dirigentes precisam parar com essa coisa pobre de achar que qualquer crítica ao Confea ou ao Crea só pode vir de alguém que quer destruir o sistema). Não, não sou o inimigo. Pelo contrário. Quero (e acho que posso) contribuir. E para isto, presidente, não preciso de cargos, chefias, gerências ou contratos.
Não. Não estarei na fila de pedintes que o senhor terá de enfrentar nas próximas semanas.
Mas estarei aqui à disposição para contribuir com os meus conhecimentos e com os meus quase 40 anos de experiência.
Finalizando, engenheiro Vinícius, tenho certeza que a sua mesa de Presidente do Confea terá, à sua espera, grandes tarefas. Grandes questões nacionais para serem enfrentadas: as questões econômicas, a Engenharia Pública, a relação com os outros conselhos profissionais da área tecnológica, as questões ambientais, as políticas públicas nacionais, as instituições de ensino, as entidades de classe, enfim, muita coisa.
Mas, sinceramente, continuo pensando que a missão de avançar na mudança da percepção que a sociedade e os profissionais do sistema têm a respeito do Confea será a grande tarefa a ser enfrentada na sua gestão. Uma questão estratégica e fundamental. Uma questão de vida ou morte, se é que o senhor me entende.
Espero que o senhor seja capaz de ser um líder para todos nós. Não apenas para nós que o contemplamos com o nosso apoio e voto. Mas também para os que votaram em outros candidatos e os milhares (centenas de milhares) que não votaram nesta eleição. Seja nosso líder, engenheiro Vinícius. Seja criativo, seja corajoso, apresente soluções, assuma responsabilidades. Seja, no exercício do seu mandato, o melhor que um engenheiro pode ser.
Boa sorte, presidente. Torço, sinceramente, para que o senhor tenha um mandato tranquilo, feliz e, acima de tudo, produtivo.
